Timo Leonetti: o jovem francês que fez do Sertão uma segunda casa (e fonte de recordes)

Em 2023, piloto de 20 anos faturou o Record Junior decolando de Tacima (PB)

08 de novembro de 2023 - Por Guilherme Augusto

A imagem de que o Sertão Brasileiro é o Avaí do voo livre percorreu o mundo e hoje inúmeros pilotos do exterior visitam a região em busca de grandes marcas. Às vezes, trazem a família inteira. Em algumas, formam novos recordistas mundiais.

Essa é a história de Timo Leonetti. Filho de instrutores de parapente, o prodígio francês vem ao Brasil desde seus 2 anos de idade e tem uma linda relação com a região, unindo esporte, gratidão, amadurecimento pessoal e títulos.

Como tudo começou

Timo vive na ilha de Córsega, onde seus pais têm uma escola de parapente. O pai e o tio vieram ao Sertão pela primeira vez em 2004. E o garoto estava lá, com apenas dois anos, acompanhando tudo de perto na rampa de Quixadá (CE). Hoje, é praticamente um nativo.

Do início dos anos 2000 para cá a família retornou diversas vezes, praticamente todos os anos, especialmente até 2013. Timo, que aprendeu a voar aos 8 anos, na França, veio pela primeira vez como piloto em 2019. Aos 16, voando ‘na carona’ do pai, fez 350 km. E seguiu evoluindo.

Voos acima dos 500 km e recordes mundiais

A cada ano, Timo subia seu recorde pessoal em 100 km. Aos 17, voou 400 km. Aos 18, conquistou a sonhada marca dos 500 km. Ano passado, aos 19, atingiu incríveis 569 km.

Com essas marcas e um ritmo de voos intenso, o garoto faturou duas vezes o XContest. E, em 2023, quebrou o Recorde Mundial Junior ao voar 531 km.

“Sou grato ao Sertão, foi ele é que me oportunizou tudo isso. Pra mim, é o melhor lugar no mundo para grandes voos de Cross, por isso volto sempre que posso. Também, curto o ambiente e as pessoas daqui, que são incríveis e ….

2023: temporada atípica

Timo foi um dos muitos pilotos que notaram que a temporada atual foi diferente no Sertão. Atípica. Térmicas fracas, muita turbulência, muito azul, condição que enfraquecia.

“Não tive nenhum ‘dia clássico’, com aquela formação incrível de nuvens que só tem aqui. Manhãs de vento fortíssimo e que parava completamente à tarde. Dias que começavam com potencial para 600 km, mas que encerravam logo no início da tarde. O ano mais complicado que vi até agora”.

Porém, foi suficiente para um recorde. Neste dia Timo estava na companhia do pai e da mãe, como resgate. Decolou de Tacima (PB), tentou uma estratégia diferente logo pela manhã e, com um pouco de sorte e muita técnica, conseguiu voar o dia inteiro. Ao entardecer, mais 531 km pra conta e o novo recorde júnior.

Sonho realizado: voar de Quixadá

É curioso ouvir Timo falar do Sertão. Nota-se um sentimento de empolgação, mas também de gratidão. É como se ele estivesse sempre diante de um grande ídolo no esporte.

Talvez por isso sonhasse tanto em voar de Quixadá (CE), onde tudo começou. Esse objetivo foi realizado no fim de outubro, um dia após o voo do recorde. 

“Cheguei na rampa às 6h, com minha mãe. Decolei às 06h30 com grandes objetivos, mas o que mais queria era ver o rio Parnaíba, na divisa entre Piauí e Maranhão. Era um sonho. Acabei tendo um voo incrível, passando pela região, com muitas térmicas de 6 m/s e alguns trechos de nuvens. Acabei o dia com 510 km. Pela primeira vez, voei mais de 500 km dois dias seguidos. Um sonho de criança e grande acontecimento”.

Um francês no Sertão

Ao longo dos anos, Timo e o Sertão construíram muitas memórias afetivas juntos. Aliás, para o jovem, ‘o Sertão me ensinou muito sobre a vida, enquanto piloto e como ser humano’. Entre tantas recordações, o garoto destacou algumas:

O primeiro voo de 350 km, voando ao lado do pai até o pôr do sol. O primeiro de 400 km ao voar sozinho. Os 535 km, quando começou o dia ao lado do pai, que cravaria um novo recorde pessoal aos 443.

E, também, as marcas maiores, claro. Os 569 km partindo de Tacima (PB) e os 510 km de 2023, com a tão sonhada decolagem de Quixadá.

Dicas para principiantes no Sertão

Claro que não poderíamos deixar essa entrevista passar sem dicas do recordista. Segundo ele, quem pensa em voar no Sertão pela primeira vez, deve:

  • Respeitar a região e saber que é um local de voo difícil, técnico. E que não é fácil ficar no céu o dia todo: você pode pregar a qualquer hora e lugar;
  • Aprender a fazer a janela inteira de voo - ou, ao menos, 8h às 17h;
  • Ter cuidado ao pousar tarde, especialmente depois do pôr-do-sol. Fique atento a baixa visibilidade do chão e possíveis fios elétricos;
  • Ficar tranquilo no voo e aproveitar a beleza do lugar - o mais maravilhoso do mundo para o voo de distância;
  • Os estrangeiros precisam aprender a falar português ‘para se comunicar com esse povo incrível do Sertão’.

Agradecimentos

Para fechar, as considerações finais feitas por Timo durante a entrevista. Ele agradeceu ao ‘povo do Sertão’ por sempre o receberem após os pousos. ‘Sempre com muita gentileza e vontade de ajudar’.

Também, à sua família, companheira de tantas expedições, e a todos que já lhe ajudaram no reboque quando estava voando de winch. “Também, a todo o resgate, que tantas vezes me encontraram no meio do nada e me ajudaram a voltar para que pudesse voar no dia seguinte”.

Por fim, um agradecimento ‘à vida, à sorte e a esse lugar mágico que é o Sertão - que tanto me deu em bons momentos e emoções!’.

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