Gabriel Jansen no X-Alps: Superação, Treinamento Intenso e o Orgulho de Voar pelo Brasil!
Entrevistamos o Gabriel sobre sua preparação para o X-Alps
A atmosfera é um sistema dinâmico, que contém uma quantidade fenomenal de energia circulante. São 3 octilhões de watts (mais precisamente 3.057.883.071.600.000.000.000.000.000) gerados a cada segundo. Toda essa energia é distribuída pelo planeta pela Circulação Geral da Atmosfera (CGA), através do movimento global dos ventos, constituindo padrões de pressão e vento em larga escala. Estes padrões caracterizam sistemas meteorológicos distintos. A influência dos diversos sistemas que atuam no Brasil é determinante no tipo de condição de voo que encontraremos.
Assim como os surfistas acompanham a chegada de um swell monitorando as marés, as ondulações, a topografia do fundo do mar e os ventos, também somos capazes de rastrear o movimento das massas de ar, das frentes, das zonas de convergências, dos centros de alta e baixa pressão, dos bloqueios, dos cavados, das cristas, das correntes de jato e dos vórtices ciclônicos. Isso nos informa antecipadamente sobre a iminência de uma condição de voo excepcionalmente boa, o nosso swell.
De modo geral, e de maneira sucinta, os sistemas são: de alta pressão e de baixa pressão; de frente fria e de frente quente; de zona de convergência de umidade e de massa de ar seco. A ferramenta que revela os sistemas climáticos correntes é a carta sinótica.
Uma carta sinótica é a representação esquemática da interação e da dinâmica entre sistemas climáticos de larga escala. Cada sistema tem seu símbolo próprio, com suas magnitudes expressas conforme a legenda abaixo.
Fonte: CPTEC/INPE
Cartas sinóticas atualizadas podem ser obtidas nos seguintes links:
https://tempo.inmet.gov.br/AnaliseSituacaoAtual
https://www.marinha.mil.br/chm/dados-do-smm-cartas-sinoticas/cartas-sinoticas
Uma frente é a zona de transição entre massas de diferentes temperaturas e, portanto, de diferentes densidades. Uma frente fria ao se aproximar, que no Brasil normalmente vem de sudoeste a partir da região Sul, provoca diminuição brusca da pressão atmosférica, aumento na temperatura ambiente, aumento na velocidade do vento - que também muda de direção, maior ocorrência de nuvens convectivas e maior cisalhamento vertical (térmicas). Por estes aspectos, as condições “pré-frontais” são as que mais favorecem o voo.
Geralmente uma frente fria é acompanhada por um centro de baixa pressão na superfície, conceituado como “ciclone”, que pela atuação da força inercial de Coriolis, gira no sentido horário no hemisfério sul (centros de alta pressão são os anticiclones e giram no sentido anti-horário). Como já vimos em artigos anteriores, a baixa pressão atmosférica favorece a ascensão do ar quente e a convergência de ar próximo da superfície, que nada mais é do que uma térmica.
A importância de se identificar se estamos voando em um sistema de alta ou de baixa pressão reside no fato que as térmicas irão apresentar movimentos circulatórios distintos. Sabendo que a vela tem um comportamento mais estável, com menos avanço de pitch, quando giramos contra o sentido da térmica teremos um melhor rendimento se girarmos para a esquerda em sistemas de baixa pressão e para a direita quando o sistema que predomina é o de alta pressão. Como toda regra tem exceção e uma térmica é, por definição, um micro sistema de baixa pressão, há térmicas que circulam no sentido horário, mesmo em sistemas de alta pressão. Na dúvida, observem como giram os pássaros. Eles sabem.
Há também sistemas que acarretam em condições desfavoráveis ao voo, devido às suas características e persistências, podendo durar por dias ou até mesmo semanas. São as zonas de convergência de umidade. A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) é o principal sistema que provoca chuvas durante o verão, do noroeste ao sudeste brasileiro. É formada por ação dos ventos alísios em associação com o corredor de umidade que se origina na Amazônia.
Outro sistema que trás chuvas persistentes é a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), caracterizada como uma faixa de nebulosidade que circunda a Terra e se desloca entre os hemisférios. No Brasil, a ZCIT influencia principalmente as regiões Norte e Nordeste durante o verão. Durante o inverno, a sua ausência causa uma diminuição significativa das chuvas nestas regiões, resultando nas infames secas da no interior da região Nordeste.
Um importante sistema, pela grande instabilidade que causa na região nordeste do Brasil durante o verão, é o Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN), que favorece a ocorrência de chuva no litoral e de tempo seco no interior da região, pincipalmente no verão.
A Alta Subtropical do Atlântico Sul, com o sugestivo acrônimo de ASAS, é outro sistema digno de nota. Ele afeta o clima tanto no inverno como no verão. No inverno, inibe a entrada de frentes e causa inversão térmica nas regiões sudeste e sul, deixando a condição estável. Na região nordeste, a ASAS contribui para o regime de chuvas no litoral. Esse sistema também favorece a formação de nevoeiros e geadas no sul e sudeste do Brasil.
No dia 10/10/2019, quando o recorde mundial de distância foi batido no Brasil, a região estava sob influência de um escoamento determinado pela presença da Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), levando o ar mais úmido para o interior do continente e contribuindo para formação de Cumulus convectivos, alinhados com o vento sinótico, formando “cloud streets”. No boletim sinótico desde dia também constava: “o cavado contribui para a organização da nebulosidade e do transporte de umidade. Sobre grande parte do Nordeste, nota-se uma crista que dificulta a formação de nebulosidade significativa nesta área e também contribui para o aquecimento do ar em superfície devido a compressão adiabática e a diminuição da umidade relativa do ar”. A imagem abaixo é da carta sinótica deste dia.
Fonte: CPTEC/INPE
Retrospectivamente, vemos que sistemas antagônicos geraram instabilidade climática de modo ideal, configurando o “padrão ouro” de uma condição de voo.
É conhecendo e monitorando os sistemas meteorológicos que podemos prever a “altura” que nossas térmicas nos levarão, quando o swell chegar.
Boas ondas do ar!