Se você curte o voo livre como a gente, certamente já assistiu vídeos de um urubu tirando onda com pilotos de parapente. Ele acompanha a galera, voa ao lado e até pega carona nos equipamentos ou braços do pessoal. Cheio de carisma, este é o Uru.

Quem deu o nome foi seu criador legal e fiel companheiro, Israel Cavalcante. O Uru é um urubu de 8 meses, que vive em Pacatuba (CE) e, ao lado da região metropolitana de Fortaleza, seu lar é a Serra da Aratanha. É lá que está literalmente em casa.

De onde surgiu o Uru

Vamos às apresentações. Antes de ser sucesso na internet, o Uru era ‘apenas’ um jovem urubu-de-cabeça-preta. Ele foi encontrado ao lado de uma lixeira, fora de seu habitat natural e abandonado com poucos dias de vida.

Como não sobreviveria sem os pais na natureza, as autoridades locais do meio ambiente foram em busca de um 'depositário fiel', um tutor legal para o bicho. Foi aí que surgiu Israel.

Indicado pelo seu bom histórico com animais, Rael mora aos pés da Serra da Aratanha, um pedacinho de paraíso ao lado de Fortaleza. Como tutor de animal silvestre, ele responde - inclusive criminalmente - a qualquer coisa que aconteça ao animal… mas está curtindo muito a fase ‘pai de urubu’.

O urubu mais famoso do Brasil

Como Rael acolheu o Uru, lhe deu abrigo e ensinou a comer, não é estranho dizer que a ave também o elegeu como pai. E passou a segui-lo onde quer que fosse pela cidade, inclusive na rampa de voo livre de Pacatuba, claro.

‘Ele ia comigo e acompanhava a galera decolando. Parecia curtir o movimento dos pilotos. Depois que ganhou penas, começou a me seguir pela rampa e dar pequenos voos, bem próximo do chão, coisa de 40 ou 50 metros. Foi aí que eu pensei em levar ele comigo num voo’.

Hoje o urubu está famoso, tem mais de 20 mil seguidores no Instagram (link) e uma infinidade de compartilhamentos no WhatsApp. Só no primeiro final de semana, seu vídeo viral atingiu mais de um milhão de views. Mas o que chama a atenção da galera?

Aos não-pilotos, o fato de uma pessoa ter um urubu como ‘pet’. Não é um cachorro, gato ou papagaio, mas um urubu que vive na natureza e mora com o cara ao mesmo tempo. Um urubu!

Já para nós é impressionante ver um animal silvestre acompanhando pilotos em voos de parapente. Mais que apenas ir junto, o bicho realmente interage com a galera.

O susto

No primeiro voo, Rael levou Uru numa caixa e o bicho ficou só espiando, cuidadoso, o que rolava ao redor. No segundo, rolou um grande susto: Uru saiu da caixa e sumiu em pleno voo. Voltou para casa apenas dias mais tarde.

Depois disso, o bicho ganhou independência. Agora Uru fica curtindo o movimento na rampa e decola logo depois que os pilotos - sobretudo Rael - deixam o chão. Voa junto e até tira onda. Tem vezes em que senta no próprio piloto durante o voo, como no vídeo que viralizou.

Curiosamente, naquele dia Uru não pegou uma carona com seu tutor legal, mas com o amigo Rafael Vital. 

Como é voar com seu brother urubu

Rael sabe bem que ter um amigo urubu inclui lá suas vantagens extra. Como se não bastasse o barato de curtir o animal silvestre planando com ele, o bicho pode lhe ajudar a voar como um urubu. Saca que barato!

‘Tem vezes que ele ajuda a identificar térmicas. Já rolou pelo menos 3 vezes (incluindo no vídeo que viralizou) e numa delas a gente subiu muito, entrou numa nuvem e ficou por lá alguns minutos. Depois ele veio e pousou no meu pé. Cara, foi demais, a conexão com ele é inexplicável’.

Depois do pouso, Uru acompanha o tutor para sua casa. A menos que eles aterrissem em algum lugar alternativo, que não seja do agrado do urubu. Se for assim, ele deixa o humano para trás e volta rápido, voando. Quem manda - inclusive no roteiro - é o urubu.

A rotina do Uru

Uru foi acolhido com poucos dias de vida e hoje tem aproximadamente 8 meses. Ainda não sabem se é macho ou fêmea, mas está plenamente saudável e com uma pequena anilha na perna para facilitar a identificação.

Sem endereço fixo, alterna seu tempo entre a casa de Rael, a Serra da Aratanha e a rampa de voo livre. Costuma dormir na casa do humano, inclusive, protegido de qualquer contratempo da natureza. As refeições também costumam rolar por lá, porém, tem liberdade para voar livre quando bem entender.

E agora, Uru?

Rael é só alegria com o novo companheiro. Para ele é como um filho, que deixa o coração apertado quando demora para voltar para casa. E como um amigo, que traz vibração positiva no meio dos problemas do dia a dia.

Por isso, os planos futuros são os melhores possíveis. Israel fala em ‘muito a aprender’ com o Uru, quer voar muito com o companheiro, encontrar parceiros e levar adiante a bandeira da preservação ambiental. Quer fazer desta relação uma mensagem de conscientização. E também pegar vários macetes com o penoso, claro.

’Também posso criar um urubu?’ Claro que não!

Criar animais silvestres sem a devida autorização é crime (29 da Lei 9.605/1998) e… você lembra de como a história do Uru começou? Ele só foi adotado porque na situação em que estava jamais sobreviveria sozinho. Estava fora de seu habitat natural, sem os pais e tinha apenas dias de vida.

A advogada Karine Rocha Montenegro, diretora do Instituto Pró-Silvestre e parceira em todo o processo de adoção do Uru, acompanhou nossa entrevista com Rael. Também deixou clara uma preocupação.

‘O caso deles não pode ser vitrine de posse de animais silvestres, muito pelo contrário. É um exemplo de que o modelo de depositário fiel pode dar certo se todo o protocolo for cumprido. Nosso compromisso é incentivar a defesa à vida silvestre, por isso fazemos um chamado para a população vestir a camisa da fauna’.

Siga o Uru

Curtiu a história do Uru? Acompanhe seus voos no Instagram. Você também pode conhecer mais sobre o Pró-Silvestre ou o tutor, Rael. Aliás, o piloto está sem voar no momento. Depois de muitas horas de voo, seu velho Skywalk Chili 2 precisou ser aposentado e Israel, sem recursos, ainda não adquiriu novos equipamentos.

Uru: www.instagram.com/uru_fly/
Rael: instagram.com/raelserradaaratanhaa/
Inst. Pró-SIlvestre: instagram.com/institutoprosilvestre/