Gabriel Jansen no X-Alps: Superação, Treinamento Intenso e o Orgulho de Voar pelo Brasil!
Entrevistamos o Gabriel sobre sua preparação para o X-Alps
Celebramos quatro décadas do maior título individual do voo brasileiro; relembre a história
Beppu, província de Oita, ilha de Kyushu, cerca de mil quilômetros de Tóquio, Japão. Foi nesta cidade que no dia 11 de outubro de 1981 o jovem Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes faturava o primeiro - e até aqui único - título individual de um brasileiro num Mundial de Voo Livre.
Nesta semana recordamos o aniversário de 40 anos do maior título da carreira de Pepê Lopes, de uma das principais conquistas do voo livre nacional e de um momento inesquecível da história do esporte verde e amarelo. Relembre a história por trás da conquista.
Há exatos 40 anos comemorávamos o maior título individual do voo livre brasileiro, o Mundial de Pepê Lopes
A asa delta ainda era um esporte relativamente novo e desembarcava no Japão para realizar um de seus primeiros mundiais. A equipe brasileira era igualmente jovem, composta de pilotos talentosos mas com pouca - ou nenhuma - experiência no evento.
Assim, o time era formado da seguinte forma:
Class 1 - Asa flexível
Haakon Lorentzen
Paulo Linhares
Paul Gaiser
Geraldo Nobre
Carlos Niemeyer
Pepê Lopes
Class 2 - Asa Rígida
Gustavo Carreira
Team Leader: Gil Descharte
Delegação Brasileira no Mundial de 1981 tinha Haakon Lorentzen, Paulo Linhares, Paul Gaiser, Geraldo Nobre, Carlos Niemeyer, Pepê Lopes, Gustavo Carreira e Gil Descharte
Beneficiado por uma memória invejável, Geraldo Nobre lembra bem como foram aqueles dias. O clima na cidade litorânea não estava favorecendo o voo, deixando algumas provas amarradas e até levando outras ao cancelamento. E havia um êxtase entre a torcida.
Isto porque, afinal de contas, o Japão recebia uma competição de nível mundial e temperada pelo sabor de novidade. Além disso, a organização providenciou uma grande arquibancada natural próximo do local de decolagens, que esteve lotada em diversas ocasiões - inclusive na final, claro. Aliás, não era um local qualquer.
Pouso turbulento foi sinônimo de - muitos - crashes
“Era uma série de pequenos morros e decolávamos de um dos maiores deles. Atrás havia uma espécie de platô. O pouso principal era num lugar fechado, como um grande buraco, muito turbulento. Pouso difícil, ainda mais com os equipamentos da época. Crash era algo que acontecia direto. Muitos, como eu, ainda voavam de asa pano simples”.
Depois de uma semana de provas, a final. E que final! Nobre recorda que somente um grupo restrito se classificou à última fase, incluindo dois brasileiros. Ele e Pepê. Então rolavam disputas diretas.
“Pepê encarou Rich Pfeifer, um americano tão talentoso quanto arrogante. Para ter noção, o cara tinha adesivos com ‘asinhas delta’ no seu equipamento mostrando quantas competições já tinha ganho. A condição estava fraca e Pepê precisava mostrar no fim da prova e pouso que ele era o melhor, era um pouso de precisão. E foi isto que fez”.
Pepê chegando ao goal que lhe consagraria Campeão Mundial
Carlinhos Niemeyer, ainda hoje figura presente - e membro da elite - em diversos eventos do voo, também tem suas recordações daqueles dias. De alguns perrengues, inclusive.
Era seu primeiro Mundial e ele embarcava ao Japão com cerca de apenas dois anos de voo. Primeira viagem internacional, não falava inglês, seriam mais de 30 horas até chegar ao destino final.
“Cara, aquilo tudo foi uma loucura. Estávamos muito animados, iríamos ao Japão. Caramba, era um Mundial de Voo Livre. Para se ter ideia, eu voava com uma Comet, uma das primeiras asas de pano duplo, e nem tinha variômetro. Na teimosia de principiante achei que iria me atrapalhar. Mas foi uma experiência incrível”.
Para Carlinhos, o clima da equipe era de descoberta, até porque estavam do outro lado do mundo e a maioria da equipe nunca tinha ido a um mundial. E apesar do Brasil já ter mostrado bons resultados em eventos anteriores e começar a chamar atenção do mundo, a bola da vez era mesmo o Pepê.
“Ah, ele se sobressaiu e brilhou. Na época o esporte era muito diferente no Brasil - não tínhamos voos duplos comerciais, por exemplo -, e quando voltamos com o título sentimos um boom. A conquista foi celebrada demais, pela galera do voo, pelos brasileiros, pela mídia.”
Aliás, Geraldo lembra que Pepê era um homem de ótimas relações, mostrando facilidade para trabalhar a imagem - do título, do esporte e do atleta - ao voltar com o troféu. Isto seria crucial ao novo momento que o voo livre viveria no Brasil a partir de então.
Se liga na audácia do americano Rich Pfeifer. Repare nas 'asinhas', representando competições e atletas que ele tinha vencido
“Ser campeão não é fácil. Independente se no auge ou início do esporte, entre muitos ou poucos atletas, nunca é fácil”, comenta Carlinhos.
“O título foi muito bom para ele, mas ainda mais importante ao nosso esporte. O crescimento que o voo viveu na sequência foi motivado por esta conquista. Recebemos gente de muitos esportes, uma galera que ficou fascinada e voava todos os dias. Depois o Brasil sediou três Mundiais, tivemos a conquista por equipes em 1999 - da qual eu pude fazer parte. E hoje ainda vivemos um momento incrível no parapente. Certamente, ainda tem algo do troféu do Pepê nisso tudo”.
Pepê nasceu para ser campeão. Talentoso, carismático, inteligente, competitivo. Carioca, nasceu em setembro de 1957 e começou a praticar esportes ainda jovem, incluindo artes marciais, judô e natação.
Com o surfe vieram as primeiras conquistas, como o de campeão Júnior de Surf e também de campeão Brasileiro em 1975/76. Ainda, tornou-se o primeiro brasileiro a faturar uma etapa do Mundial, durante o Waimea 5000, em 76, no Rio.
No mesmo ano, chegou à final do Pipeline, no Havaí - onde só voltaríamos a ter representante em 2014, com Gabriel Medina. Além disso, figurou entre os 20 melhores surfistas do mundo por vários anos.
Depois encontrou o voo livre. Incentivado por amigos da vela e do surfe, aprendeu a voar com André Sansoldo e ao lado de grandes parceiros, como Miguel Tavares. As primeiras decolagens aconteceram em 1978, apenas três anos antes do título Mundial.
Sua carreira ganhou notoriedade após Beppu. Teve um crescimento técnico visível e disputou diversas competições, incluindo os mundiais de 1988 (na Austrália) e 1991 (em Governador Valadares). Seu objetivo era claro: ajudar o Brasil a conquistar o título por equipes.
Em 1991 o Mundial retornaria ao Japão, na cidade de Wakayama, com Pepê no time mais uma vez. Apesar das condições climáticas adversas e dos pedidos de pilotos pelo cancelamento, no dia 5 de abril a organização insistiu em manter a realização das provas. Pepê voava em direção à cidade de Kushimoto quando perdeu o controle de sua asa e acabou colidindo contra pedras ao tentar um pouso de emergência.
O brasileiro foi encontrado pela equipe de resgate, que usava um helicóptero, cerca de duas horas depois e não resistiu aos ferimentos. Mesmo assim, foi vice-campeão Mundial na ocasião. Pepê tinha 33 anos.
Pepê nasceu para ser campeão. No voo livre, no surfe, no hipismo, no empreendedorismo. Atleta criou a Barraca do Pepê, que logo se mostrou um sucesso e deu origem à uma rede de restaurantes
A história deste brasileiro foi reconhecida em todo o mundo. Em 1992 a Federação Aeronáutica Internacional (FAI) criou a medalha Pepê Lopes, conferida àqueles que se arriscam na tentativa de ajudar um companheiro acidentado, e até hoje dignas de pouquíssimos atletas.
A honraria foi criada em homenagem a Pepê e Steve Blenkinsop, piloto australiano que tentou salvá-lo no fatídico acidente de 1991. Para isso ele teve de pousar em cima de árvores e sacrificou sua prova. Detalhe: estava em primeiro no geral e marcava o brasileiro, segundo, num campeonato que oferecia 100 mil dólares ao vencedor.
Aliás, o Rio de Janeiro também recorda com orgulho a trajetória deste filho. O piloto emprestou seu nome à uma avenida na Barra da Tijuca e também recebeu um monumento na Praia da Barra. Além disso, o Rio celebra o Dia Estadual do Voo Livre em 2 de setembro, em homenagem ao nascimento do ilustre carioca.
Monumento na Barra homenageia duas paixões de Pepê, o voo livre e o surfe. Brasileiro, entre muitas outras homenagens, foi inspiração para uma medalha da FAI
Relembre a história de vida do inesquecível Pepê Lopes aqui.